Os americanos têm eleições de dois em dois anos, alternando entre anos de eleições Presidenciais (2016, 2020, 2024, etc.) e anos de eleições Intercalares (2018, 2022, 2026, etc.). As próximas eleições serão as Intercalares, a 8 de novembro de 2022. Nessa data:
– Todos os eleitores norte-americanos elegerão um membro da Câmara dos Representantes;
– Os eleitores em 34 dos 50 Estados elegerão um senador;
– Os eleitores em 36 Estados elegerão um governador e, na maioria dos Estados, elegerão outros cargos menos importantes.
Nos Estados Unidos, existem apenas dois partidos políticos dominantes: Democratas e Republicanos. O partido que tem maioria em cada Câmara do Congresso tem controlo total sobre o funcionamento dessa Câmara, e como qualquer legislação requer a aprovação tanto do Senado como da Câmara dos Representantes, o controlo maioritário do Congresso é um prémio que ambos almejam desesperadamente. As eleições intercalares são extremamente importantes: decidem que partido controlará as duas Câmaras nos dois anos seguintes.
A política é altamente incerta, mas se existe uma regra no panorama político dos EUA é que o partido do presidente perde sempre assentos no Congresso nas eleições Intercalares, e, normalmente, a perda é enorme – isto aconteceu, na Câmara dos Representantes, em 17 das últimas 19 eleições intercalares desde 1946 e, no Senado, em 13 das últimas 19. Numa eleição Presidencial, os eleitores normalmente dão a um presidente vencedor um aumento dos representantes desse partido no Congresso, mas, passados dois anos, nas eleições Intercalares, os eleitores penalizam duramente o partido do presidente, particularmente se o presidente tiver uma baixa taxa de aprovação aquando das eleições Intercalares.
Em setembro de 2022, 56% dos americanos desaprovam a forma como Biden está a gerir o seu cargo, apenas 42% aprovam, uma classificação semelhante a 5 dos 7 presidentes recentes na mesma altura das suas administrações: cada um perdeu um grande número de assentos no Congresso nas eleições Intercalares, de 15 para 63 lugares. Atualmente, os Democratas têm apenas uma maioria de 6 assentos na Câmara dos Representantes e o Senado está empatado; a História indica que os Democratas têm grande probabilidade de perder a maioria em ambas as Câmaras. As últimas sondagens confirmam a probabilidade de os Democratas perderem o controlo da Câmara, mas poderá haver uma exceção à regra para o Senado, onde se prevê que os Democratas tenham, atualmente, uma hipótese razoável de manter o controlo.
Os riscos são elevados: se, após as eleições Intercalares, as duas Câmaras forem controladas por partidos opositores, podemos esperar um impasse partidário, nenhuma nova iniciativa legislativa importante, um governo disfuncional incluindo crises de financiamento e esforços da Câmara controlada pelos Republicanos para iniciar investigações contra a Administração Biden, incluindo possivelmente a tentativa de impugnar o presidente, não é uma boa perspetiva para a reputação dos EUA, nem para a sua liderança no mundo.
Perante esse cenário, com uma agenda interna totalmente bloqueada, o presidente Biden pode muito bem seguir o caminho de muitos ex-presidentes dos Estados Unidos que, durante a segunda metade do seu mandato, se concentraram numa agenda internacional, onde tiveram maior independência de movimento.
Na próxima semana: Eleições Intercalares para o Senado.
Autor de Rendez-Vous com a América, uma explicação do Sistema Eleitoral Americano, presidente do American Club of Lisbon. As opiniões aqui expressas são pessoais e não do American Club of Lisbon. Para quaisquer comentários: PSL64@icloud.com
Primeiro de uma série de artigos semanais sobre as eleições Intercalares nos EUA, todas as segundas-feiras.
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